Política brasileira, entre a imoralidade e a hipocrisia

Jayme Modesto

ACHO QUE NOSSO país já pode decretar estado de calamidade pública. Não estou aqui para defender “A” ou “B”, nem fazer demagogia para defender “C” ou “D”, só exercer o meu papel de cidadão e formador de opinião. Sei também que posso ser taxado de deselegante e até mal educado, não importa! A verdade é que todos nós brasileiros estamos indignados com o que vem acontecendo no país nos últimos 14 anos. A imoralidade política desta nação ainda está muito longe do fim.

Quando alguns dizem que o Congresso está contaminado, eu discordo completamente, pois o Congresso Nacional não tem mais como se contaminar se é ele o casulo da desonestidade e da impunidade que envergonha todo o país. Vejo que o povo brasileiro não deve suportar isso por muito tempo.

É de dar náuseas a exposição das relações espúrias e promiscuas entre o governo e as grandes empresas privadas como construtoras e mineradoras, além das instituições públicas como: Petrobras, BNDS, Caixa Econômica, Caixa de Previdências entre tantas outras. Bombardeados pela imoralidade de agentes políticos preocupados apenas com seus próprios interesses, seja de enriquecimento, seja de perpetuação no poder.

Diante desse quadro, a atividade política parece de uma imoralidade tal, que só restariam duas opções: ou realmente a política não possui nenhuma relação com a moral, e assim deve ser praticada, ou, pelo contrário, para a purificação de suas práticas, ela deve ser completamente encampada por uma moral capaz de lhe restaurar o brilho conspurcado. A verdade é que a corrupção é endêmica no mundo político, num Brasil de ânimos exaltados por um período de crise, não apenas econômica, mas também moral.

O cidadão de bem que paga seus impostos e não se vê nem contemplado no momento de requerer direitos, como o atendimento à saúde e o acesso à educação de qualidade. A vida de um brasileiro contribuinte, trabalhador, consumidor e eleitor é, em alguma medida, uma provação. E não tenho sombra de dúvida de que só existem dois motivos para que seja assim: a corrupção e a impunidade com a complacência do judiciário. A falta de credibilidade, e a distância dos membros do judiciário com a sociedade, transformou a justiça num dos piores órgãos da República, a ponto de perder nas pesquisas até mesmo para o legislativo e o executivo. Difícil remar no lamaçal. De certa forma, estamos ilhados, circundados por políticos que roubam, saqueiam, fazem chantagens, fabricam dossiês e denigrem a imagem do Brasil. Fazem de palácios e prédios públicos um abrigo blindado contra qualquer punição célere. O tamanho da lista de Janot, decorrente das delações da Lava-Jato, dá mostras do quanto temos sido ludibriados e roubados por esses gatunos que dizem nos representar, é uma acusação atrás da outra, um conchavo puxando outro, um escândalo sobrepondo a outro.

É mais um capítulo triste na história de Brasília, que sofre de forma desmedida desde a conquista de sua autonomia política. Para completar, agora fomos surpreendidos com a operação da Polícia Federal intitulada “Carne Fraca”, a maior da história, que desvendou um esquema absurdo de pagamento de propina a fiscais agropecuários federais para liberar carne adulterada, entre outros problemas, beneficiando empresários do agronegócio e partidos políticos e levando a imagem do país a bancarrota. Simplesmente inacreditável ver as maiores indústrias do ramo envolvidas num esquema dessa magnitude. Em quem ou no quê podemos confiar?

Precisamos, sim, valorizar as polícias, o Ministério Público, a Justiça brasileira e a imprensa. Juntas, essas instituições são as únicas que podem ajudar a vencer o descrédito do brasileiro. Só com punição, voltaremos a confiar num futuro mais promissor e por um fim a indignação coletiva da sociedade brasileira. É claro que não podemos generalizar e jogar todos na mesma vala, ainda existem políticos sérios e comprometidos com as causas do país e da sociedade. Posso até não ser o mais entendido para falar de assuntos políticos, mas como cidadão com criticidade; sinto na pele o reflexo e acompanho o efeito devastador do que estão fazendo com o nosso país.


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