Brasileiros recorrem ao improviso para se comunicar com turistas estrangeiros

O improviso será a arma dos brasileiros para aproveitarem as boas oportunidades comerciais durante a Copa do Mundo. Ainda em fase de “preparação”, funcionários de restaurantes, hoteis e lojas admitem que a língua inglesa não foi difundida em Salvador, mas, embora faltem apenas 49 dias para a estreia do Mundial, entre Brasil e Croácia, o otimismo popular ofusca as deficiências estruturais.

“O pessoal da empresa está negociando um curso básico de inglês, básico mesmo, para saber dar boa tarde, mesa para quantas pessoas, essas coisas”, disse a chefe de fila do restaurante Lafayette, Natalene Sales dos Santos. “O movimento vai ser maravilhoso com a Copa, estamos nos preparando, começamos uma reforma em cima, no deck, e começaremos uma daqui a 10 dias na parte de baixo”, completou.

No Pelourinho os últimos ajustes também são tomados, mas a consciência que o tempo é curto não desanima quem já está acostumado a receber turistas. “Aqui pelo Centro Histórico não terá problema com a língua estrangeira, já sabemos como funciona, até na mímica vai”, contextualiza a vendedora da loja Terreiro Tropical, Márcia Silva.

A dificuldade em compreender os baianos, no entanto, não frustra a turista francesa Karine Radovix, que não ficará no Brasil até a Copa e diz procurar mais conversa com quem fala inglês ou francês. “Não tive problema com a língua até agora. Só temos dois dias aqui, temos conhecido boas pessoas por aqui”, relata.

Para se comunicar com turistas como Karine, que não podem manter um diálogo em português, uma recepcionista do Santeria Hostel, na Ladeira da Barra, dá uma dica: “Me viro pelo Google Tradutor. Pego o smartphone e peço para a pessoa escrever”, diz Michele Mateus.

Apoio oficial

No entanto, esforços muito grandes foram feitos e tudo tem funcionado conforme o planejado, foi o que opinou o secretário de Turismo da Bahia, Pedro Galvão, filiado ao PR, que também aprova o trabalho do seu antecessor no cargo, Domingos Leonelli, do PSB, que deixou a pasta em janeiro.

“Ele fez um bom trabalho e eu já encontrei o Disque Turismo de sua gestão e ampliei. Estamos fazendo um esforço grande, muitos profissionais já dominam a língua, fizemos o programa Taxista Amigo, contratamos 90 monitores para ficarem nos principais hotéis, aeroporto, esperando a chegada dos turistas, além do porto, pelo menos um na rodoviária e proximidades das festas de São João, como no Pelourinho”, contextualizou o secretário, que diz ter preparado estratégias para o bem-estar dos estrangeiros no estado.

“O smartphone dará informações em 12 línguas, o Disque Turismo funciona 24 horas, em oito idiomas. E durante o Carnaval recebemos 164 queixas de taxistas pelo aplicativo Reclame Turismo, levamos as queixas para a Transalvador e 78 taxistas foram punidos, por motivos como não querer ligar o taxímetro ou não querer fazer viagem longa”, concluiu.

Opiniões divididas

Revoltado com a realização do torneio de futebol, o taxista Hugo Ferreira garantiu que vai torcer contra a Seleção Brasileira e não enxerga possibilidade de colher bons frutos com a chegada dos turistas. “Tomara que perca logo os três primeiros jogos para acabar com a euforia do povo, pois com isso o governo fica à vontade. Na Copa de 70 foi a mesma coisa, o povo esqueceu que estava em estado de sítio [período do regime militar]. Taxi é comércio como outro qualquer. Não espero por Copa, nem por Carnaval, eu como todo dia, preciso de dinheiro todos os dias, Copa é passageira”, desabafou.

Mas o otimismo de muitos brasileiros supera barreiras. Encarregado das obras da Barra, Fernandes José de Jesus enxerga os profissionais de turismo como redentores. “Os estrangeiros que não falam português não terão problema porque hoje em dia o país está muito desenvolvido, tem guias muito bons, do bem, estudando para dar informações legais para quem vem de fora”, acredita.

Localizado a menos de 200 metros da Itaipava Arena Fonte Nova, que sediará seis jogos do mundial na capital baiana, o restaurante A Porteira, no Dique do Tororó, não fechará as portas durante a competição. “Temos um garçom que tem um inglês arranhado, mas a empresa vai contratar dois terceirizados que falam bem”, revelou um funcionário.

Fonte: Tribuna da Bahia


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