O desejo de conquistar uma vaga no serviço público está na cabeça de muitos brasileiros. A Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos (Anpac) estima que oito milhões de pessoas estejam disputando uma chance dessas em todo o país. E entre os órgãos mais almejados está o Ministério Público da União (MPU), que, no próximo certame, terá nada menos que 5.428 candidatos disputando cada oportunidade.
Mas por que a concorrência nas seleções do MPU é sempre tão elevada? A resposta vai além da estabilidade e dos atrativos salários. Para o diretor-presidente do Gran Cursos, José Wilson Granjeiro, um dos principais motivos dessa procura é a possibilidade de ser convocado mesmo sem estar entre as vagas para preenchimento imediato. “Poucos concursos com cadastro reserva chamam tantas pessoas”, ressalta ele.
No certame anterior, foram oferecidas 594 chances, mas as nomeações chegaram a 3.114 pessoas, entre técnicos e analistas. “As causas são diversas. Pode ser por causa de troca de cargos, por aposentadoria, por falecimento ou por exoneração de servidores”, explica. O diretor-presidente do Gran Cursos espera que cerca de 2,5 mil aprovados sejam empossados na próxima seleção, cujas provas estão previstas para 19 de maio – há 147 vagas. A organização do certame está a cargo do Centro de Seleção e de Promoção de Eventos da Universidade de Brasília (Cespe/UnB).
O interesse dos 798 mil inscritos para o MPU também pode estar associado ao glamour da Justiça. Ex-funcionário do Ministério Público, o professor da Vestconcursos Emerson Douglas destaca, no entanto, que as vantagens da instituição vão além do prestígio. “Uma delas é a possibilidade de trabalhar em diversas cidades”, conta ele, que trabalhou lá por um ano e meio.
Fonte: Tribuna da Bahia
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Douglas diz que o servidor pode ser lotado em procuradorias dos quatro ramos do MPU: o Ministério Público Federal (MPF), o Ministério Público do Trabalho (MPT), o Ministério Público Militar (MPM) e o Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios (MPDFT). O colaborador da instituição ainda tem a possibilidade de atuar em questões urbanísticas, do meio ambiente e sociais. “Defender causas da população faz o servidor se sentir muito bem. É um trabalho apaixonante”, conta o professor.
Cargos de confiança
Para quem tem formação em direito, há ainda mais atrativos. “O funcionário pode assumir funções em gabinetes de procuradores”, acrescenta Emerson Douglas. Segundo ele, muitas pessoas permanecem no MPU pela oportunidade de assumir cargos de confiança. “O aprendizado leva muitos a até prestarem concurso para procurador.”
A estudante de direito Luciane Rocha, 22 anos, que se preparava desde novembro do ano passado para o certame do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), viu no MPU a chance de ganhar bem e ser valorizada. “As disciplinas são praticamente as mesmas. Poucas coisas mudam”, destaca. E ela garante que a elevada concorrência não intimida. “Tento apenas imaginar os frutos que posso colher posteriormente.”
Sonho começa com estudo
Francisco Aieser, 30 anos, e Henrique Sichinel, 21, são companheiros de estudo e se ajudam a não desanimar. Casado e pai de dois filhos, Francisco faz manutenção em computadores e não consegue se dedicar aos estudos integralmente. “Trabalhar na iniciativa privada é difícil. Quero ser aprovado e dar um futuro melhor para a minha família”, sonha.
Henrique nutre o mesmo sentimento. Ele deixou os pais em Rondônia para estudar na capital federal. “O tempo que passo longe deles é a maior motivação para eu voltar e ajudá-los.” Ele e Francisco frequentam, à tarde, as aulas de disciplinas básicas do MPU e costumam emprestar materiais um ao outro. “É como conseguimos nos ajudar”, diz Henrique, que ainda se divide entre bibliotecas e videoaulas. Sem o mesmo tempo disponível, Francisco usa os fins de semana para se preparar. “Estudo as matérias específicas e reviso o que foi passado no cursinho ao longo da semana.”
Foco no preparo
Os concurseiros de plantão que têm de dividir o tempo de estudo com outras tarefas do cotidiano, como Francisco Aieser, precisam estabelecer ao menos um horário fixo do dia para se preparar. Foi o que fez a analista de saúde do MPU Raquel Ferreira, que, no último concurso da instituição, passou em primeiro lugar entre os aprovados para o cargo dela. “Eu me preparava todas as manhãs, por conta própria”, revela.
Além disso, nos fins de semana, ela frequentava um cursinho para aprimorar os conhecimentos específicos pedidos no edital e respondia a questões de provas anteriores do MPU feitas pela banca examinadora. “Isso permitiu criar uma linha de raciocínio que serviu de apoio na hora de fazer a prova.” Os especialistas sugerem que sejam feitos entre 50 e 100 itens por dia.
Os especialistas na preparação de candidatos dizem que, em concursos com tantos inscritos e conteúdo tão vasto, a melhor forma de se sair bem é saber extatamente quais disciplinas explorar Uma dica do professor Emerson Douglas, da VestConcursos, é estudar a legislação específica ao MPU. “Ela serve como um termômetro, e pode ser um divisor de águas”, compara.
Momentos de lazer
Na visão dele, a menos de um mês das provas, o importante a fazer é focar a preparação nas matérias que o candidato tiver mais dificuldade. “Muitos querem estudar o que já é de conhecimento. Isso é perda de tempo”, diz Douglas. Ele defende que os interessados busquem não só decorar os assuntos, mas assimilá-los. “É preciso ter uma visão lógica do conteúdo. Ainda mais em uma prova como a do Cespe”, justifica.
Para evitar um forte desgaste antes da prova, Raquel Ferreira lembra que deixava as tardes de domingo para momentos de lazer. “Eu sentia que, depois, conseguia aproveitar melhor as horas de estudo.” Emerson Douglas aconselha os interessados a manterem a frequência de estudos. “Tem que manter o ritmo no qual o organismo está acostumado. O desespero não favorece em nada o candidato.”
Fonte: Correio Braziliense