Atraso nas aulas em SP pode afetar quem passar no Enem, diz secretaria

Cerca de 190 escolas estão ocupadas em protesto contra reorganização.
Não há como emitir certificado sem número de aulas, diz secretária-adjunta.

Entrada da Escola Estadual Caetano de Campos, na Aclimação, ocupada por alunos (Foto: Victor Moriyama/G1)

Entrada da Escola Estadual Caetano de Campos, na Aclimação (Foto: Victor Moriyama/G1)

A secretária-adjunta da Educação de São Paulo, Irene Kazumi Miura, disse nesta quarta-feira (2) que a demora na reposição das aulas perdidas nas escolas ocupadas prejudica, principalmente, os alunos que estão concluindo o Ensino Médio e pretendem ir para a faculdade. “O aluno muitas vezes fez o Enem, está entrando na faculdade, se ele não terminar o ano letivo nós como secretaria não temos como emitir o certificado”, afirmou.

As escolas ocupadas em protesto contra a reorganização do ensino terão que repor aulas em janeiro de 2016 caso não termine a reposição neste mês de dezembro. Segundo balanço divulgado na terça-feira pela pasta, cerca de 190 escolas estão ocupadas. O número é inferior ao apurado pelo Sindicato dos Professores (Apeoesp), que contabiliza 208 unidades paradas.

“Todas as escolas, dirigentes, diretores de escola já têm a liberdade para fazer esse plano de reposição”, disse a secretária-adjunta em evento no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista.

“Nós temos 200 dias letivos que precisam ser cumpridos. Então, o aluno precisa frequentar esses dias. Existe um trabalho pedagógico, um trabalho que está relacionado ao currículo e a relação entre o professor e o aluno”, afirmou.

Na terça (1º), o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), publicou um decreto que autoriza a transferência de funcionários da Secretaria da Educação de uma escola para outra dentro do programa de reestruturação da rede estadual de ensino. A reorganização é motivo de protestos desde o dia 9 de novembro.

Secretária-adjunta da educação, Irene Kazumi Miura (Foto: Tatiana Santiago/G1)De acordo com Irene, a reposição das aulas também pode ocorrer em espaços privados. “Pode ser realizado em outra escola estadual ou em outro lugar. Várias cidades no interior estão se mobilizando para disponibilizar locais fora da nossa rede estadual para que essas crianças terminam o ano letivo”, declarou.

O decreto do governador Geraldo Alckmin não especifica o número de professores e funcionários de apoio que deverão ser transferidos. A Secretaria da Educação divulgou que 93 escolas serão fechadas no processo de reestruturação.

Algumas escolas do interior de São Paulo já estão repondo as aulas perdidas. “Nós estamos em um trabalho intenso na secretaria para que essa reposição seja feita ainda em dezembro, ainda há tempo. Já tem cidades que já estão se mobilizando para essa reposição e a gente espera antes do Natal finalizar essas questões. Agora se não finalizar em dezembro, em janeiro terá reposição”, afirmou.

Questionada se a Secretaria da Educação perdeu o controle das manifestações, a secretária negou. “A Secretaria não perdeu o controle sobre as manifestações. A Secretaria está em um diálogo constante com os alunos e disposta a receber propostas”, destacou ela.

Após o Ministério Público pedir que o governo reveja o processo de reorganização, a pasta está revisando os estudos onde há alguma discrepância, onde a comunidade se manifestou ou que tenha alguma particularidade que possa ter passado despercebido. “A Secretaria não está no movimento de cima para baixo, muito pelo contrário, nós temos ouvido todas as manifestações da comunidade e dos pais que não se sentem confortáveis”, disse Irene.

Reunião
Em reunião com dirigentes de ensino, o chefe de gabinete da Secretaria da Educação Fernando Padula Novaes, braço direito do secretário Herman Voorwald, afirmou que é preciso adotar “tática de guerrilha” para acabar com o movimento.

O encontro foi realizado neste domingo (29) na sede da pasta na Praça da República, no Centro da capital paulista. O site Jornalistas Livres acompanhou o encontro e divulgou o áudio da reunião, onde a gestão prepara estratégias para desmoralizar as ocupações.

Na gravação, o chefe de gabinete repete inúmeras vezes que todos ali estão “em uma guerra”. “A gente vai brigar até o fim e vamos ganhar e vamos desmoralizar [quem está lutando contra a reorganização]”, afirmou.

Também no áudio, Padula fala sobre estratégias para isolar as escolas com ocupações com maior resistência. “Nessas questões de manipular tem uma estratégia, tem método. O que vocês precisam fazer é informar, fazer a guerra de informação, porque isso que desmobiliza o pessoal”, declarou.

Segundo ele, a ideia é ir realizando transferências e deixar “no limite” a escola invadida. O chefe de gabinete ressaltou que o máximo é que ocorrerá naquela escola é que “não começará as aulas como as demais”.

O decreto que regulamenta a reorganização vai na contramão da proposta de diáologo com os manifestantes do governador Geraldo Alckmin (PSDB).

A Secretaria de Estado da Educação anunciou no dia 23 de setembro uma nova organização da rede estadual de ensino paulista. O objetivo é separar as escolas para que cada unidade passe a oferecer aulas de apenas um dos ciclos da educação (ensino fundamental 1, ensino fundamental 2 ou ensino médio) a partir do ano que vem.

A proposta gerou protestos de estudantes e pais porque prevê o fechamento de 93 escolas, que serão disponibilizadas para outras funções na área de educação. Além disso, pais reclamam da transferência dos filhos para outras unidades de ensino.

O chefe de gabinete também afirmou que a polícia está fazendo fotos de quem está nas ocupações e registrado as placas dos veículos estacionados nas redondezas das escolas ocupadas para identificar se há carros da Apeoesp, representantes de partidos e movimentos sociais. Após identificar os proprietários, a Secretaria de Educação pretende entrar com uma denúncia na Procuradoria Geral do Estado contra a Apeoesp.

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Fonte: G1


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