Independentemente dos títulos que o Flamengo possa levantar este ano, a trajetória do clube carioca já entrará para os livros da história do futebol devido ao número de eventos que sem dúvidas vai instigar um estudo profundo por parte daqueles que no futuro admirarão o esporte. Começando, é claro, pela escolha de gastar quantidades enormes de dinheiro em jogadores de ponta (para os padrões nacionais), com o atacante Gabriel Barbosa e o zagueiro Rodrigo Caio se destacando entre os nomes trazidos para o rubro-negro na pré-temporada de 2019.

No papel, o time era um dos mais fortes já montados em tempos recentes. Mas o seu condutor, o veterano e vitorioso técnico Abel Braga, não era dos melhores para extrair as performances e os resultados esperados de um elenco tão estrelado.

Abel foi bem-sucedido em sua missão de conquistar o Campeonato Carioca, ainda que isso tenha vindo muito por conta da falta de força dos seus adversários regionais. As performances do rubro-negro, entretanto, foram bem abaixo do esperado sob o seu comando. Algo que se seguiu no Campeonato Brasileiro, com o time vencendo apenas três dos seus seis primeiros jogos no torneio, o que levou Abel a pedir demissão no final de maio deste ano.

Talvez nem mesmo os próprios diretores flamenguistas imaginavam que essa decisão seria uma das melhores a serem tomadas durante a condução da temporada. Demissões como a de Abel muitas vezes são tomadas como precipitadas, uma vez que o tempo que o técnico teve para desenvolver seu trabalho foi bastante curto. Mas era bem claro desde o início da jornada que Abel, por melhor pessoa que seja, não era o nome certo para conduzir o Flamengo rumo ao que era pretendido frente ao enorme investimento feito no início da temporada.

A escolha do nome que substituiria Abel foi uma decisão ainda melhor. Com a intenção de fugir do lugar-comum de técnicos brasileiros veteranos que demonstram resistência em incorporar novos elementos aos seus trabalhos de condução de clubes, os flamenguistas escolheram o português Jorge Jesus como novo líder do clube para o resto da temporada.

Antes do Flamengo, Jesus estava em busca de um novo time após sair do clube saudita Al-Hilal. Era um destino exótico para o técnico, que, em Portugal, já havia ganhado todos os títulos nacionais disponíveis durante seus anos comandando o Benfica e o Sporting de Lisboa. No Brasil, as esperanças eram de encontrar um clima mais favorável para conduzir seu trabalho, que, quando bem aplicado, mostra uma boa dose de sucesso.

E assim tem sido para o Flamengo desde que Jesus chegou ao Rio. Foram apenas três derrotas em 31 jogos disputados até o dia 10 de novembro, sendo a última um surpreendente 3 a 0 sofrido contra o Bahia no começo de agosto. Essa solidez, além de resultados dominantes como o 5 a 0 na semifinal da Copa Libertadores contra o Grêmio, torna o Flamengo o time favorito em sites de apostas online para levantar os maiores títulos ainda em disputa nesta temporada.

Um detalhe que às vezes passa despercebido no excelente trabalho feito por Jorge Jesus é que ele mantém as práticas dos tempos de Portugal ao promover o máximo de jogadores jovens e promissores, apesar de contar com estrelas para preencher o seu elenco. Obviamente os maiores influenciadores dos bons resultados do Flamengo nesta temporada são nomes como Gabriel Barbosa, Bruno Henrique e Giorgian de Arrascaeta – que, juntos, marcaram 48 gols no Brasileirão –, além dos defensores Rafinha e Filipe Luís, que têm se mostrado tão sólidos como pedra, apesar de estarem já bem além dos 30 anos de idade.

Mas ainda há espaço para que nomes como o do meia-atacante Reinier apareçam e brilhem na frente de milhões de pessoas. Pode-se argumentar até que a qualidade do elenco veterano é o que dá base para que atletas como Reinier ganhem espaço em um time forte como o Flamengo, pois isso faz sentido.

Esse é um modelo de que grandes times europeus, como o Barcelona e o Bayern de Munique, lançam mão. E o Flamengo hoje se encontra em posição tão forte que pode fazer o mesmo no futebol brasileiro, que em tempos de outrora se destacava por ser bem nivelado entre os doze times grandes do país. Por isso, não se assuste se você vir um dia um talento do Barreiras Esporte Clube em aquecimento nas linhas laterais do Maracanã daqui a alguns anos.

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