Fonte: Portal G1 SP\Por Marcos Guerra
Adorado, idolatrado e agora eternizado. Depois de 20 anos à frente do Palmeiras e de uma passagem campeã pela Seleção, o goleiro Marcos fez seu último ato como jogador na noite desta terça-feira, frente a mais de 38 mil pessoas no Pacaembu, em São Paulo – ironicamente, o maior público do Verdão no ano. Ele já estava aposentado desde o dia 4 de janeiro, mas interrompeu seu descanso para se despedir da torcida alviverde numa partida amistosa em que foi ao mesmo tempo o anfitrião e o homenageado, com convidados como Ronaldo, Cafu, Roberto Carlos, Evair, Edmundo e Ademir da Guia.
O jogo foi um encontro de estrelas, entre os campeões do mundo de 2002 e os palmeirenses que conquistaram a Libertadores de 1999. Mas ninguém brilhou mais que Marcos, que fez boas defesas, anotou um gol de pênalti e ainda virou centroavante no segundo tempo, antes de se despedir com um discurso para emocionar não só aos torcedores do Palmeiras, mas a qualquer fã do futebol (veja no fim do texto).
Em vários momentos, aliás, ele teve dificuldades para segurar a emoção. Na entrada de campo, levava no colo o filho caçula, Marcos Vinícius, recém-nascido. Ao seu lado, os dois mais grandinhos, Lucca e Anna Julia. Ganhou diversos presentes, como uma réplica da defesa do pênalti de Marcelinho Carioca, na Libertadores de 2000. E cantou com toda a força o hino do Palmeiras, com ênfase no trecho “Defesa que ninguém passa”.
Com a bola rolando, logo percebeu que Rivaldo tentaria fazer o papel de vilão na festa. O meia, que ainda está em atividade (mas sem clube no momento), arriscou três lindos chutes de fora da área. Marcos, com classe, e sem precisar fazer firula para a torcida, como muitos goleiros fazem hoje em dia, defendeu todos, arrancando aplausos de quase 40 mil torcedores que foram ao Pacaembu vê-lo em ação pela última vez – o público pagante foi de 36.517 pessoas e o total, de 38.858, com renda de R$ 2.456.510,00.
Aos 17 minutos, mais festa. Edmundo foi derrubado por Belletti na área. Pênalti para o Palmeiras. A torcida, enlouquecida, começou a pedir para que Marcos batesse. Tímido, o goleiro avisou que não queria. Na véspera, chegara a dizer, no programa Arena SporTV, que se armassem um pênalti para ele bater, chutaria para fora. Mas o clamor foi grande. Cafu, capitão da Seleção de 2002, cruzou o gramado para buscar Marcos. Outros jogadores fizeram o mesmo. Lentamente, ele se dirigiu até a área adversária. Rindo, ainda brincou com Ronaldo Fenômeno. E quando a árbitra Ana Paula de Oliveira autorizou, tomou distância e bateu firme, no meio do gol (Dida caiu para a direita), abrindo o placar. Todos os jogadores foram abraçá-lo.
– Eu não queria bater o pênalti, não. Falei para o Evair que a torcida tinha saudade de vê-lo em ação. Mas ele falou que a festa era minha, e foram todos lá me buscar, aí ficaria feio eu não ir lá bater. O duro é que no caminho até a área foram me botando pilha, eu comecei a ficar nervoso. E tinha o Dida, meu parceiro de longa data, desde seleção de júnior. Minha vontade era fazer gol de escanteio, de cabeça. Mas não teve jeito. Bati então aquela bola de segurança, no meio do gol, porque sei que é difícil goleiro ficar parado. E o Dida se mexeu antes, me ajudou – disse Marcos, no intervalo.
Depois do gol, o jogo se abriu – quem estava no ataque não voltava para ajudar no meio, e quem jogava no meio torcia à distância pelos zagueiros. Era uma festa, afinal, e com muitos jogadores já aposentados há muito tempo. Alguns jogadores, como Evair e Ronaldo, apresentavam uma barriguinha acima da média. E coube justamente ao Fenômeno o chute mais perigoso para defesa de Marcos – aos 39, rasteirinho, no canto direito do “Santo”, que mostrou toda sua categoria e segurou firme.
– O Ronaldo bateu no cantinho, foi duro pegar – disse Marcos, no intervalo.