Ser mulher em tempo de pandemia

Em um mundo de Covid-19 as mulheres convivem com uma nova realidade, desafios e a violência.


 

 

A atuação das profissionais de saúde tem sido fundamental no contexto pandêmico.

Ivana Dias

Há 112 anos a data 08 de março tem sido dedicada há comemorar o Dia Internacional das Mulheres, símbolo das lutas e reivindicações por direitos, contra o sexismo e as desigualdades em relação aos homens.

Em mais de um século de lutas foram muitas conquistas, algumas adaptações e novos dilemas, como o tema da ONU Mulheres de 2021, “Mulheres na liderança: Alcançando um futuro igual em um mundo de COVID-19″, que aborda os esforços de mulheres e meninas em todo o mundo na construção de um futuro mais igualitário e na recuperação da pandemia.

De acordo com o presidente do Conselho Municipal de Saúde de Barreiras, Gilvan Ferreira dos Santos, o CMS possui notória representatividade do sexo feminino, cerca de 60% de participação. Além da composição de 80% de mulheres na Comissão Intersetorial de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora – CISTT, criada em 2020 pouco antes do início da pandemia.

“Percebemos e fizemos com que uma ocupação maior das mulheres acontecesse, por entender que elas têm um olhar mais crítico e um comportamento mais voltado para a questão da humanização”, disse o presidente que destacou ainda, a importância das mulheres na ocupação de cargos representativos.

“Já estou no terceiro exercício a frente da CMS e diferente de outros exercícios, de fato houve uma grande mudança em relação ao número de mulheres no Conselho, cerca de 60% com a maioria delas titulares, o que é importante porque antes encaminhavam mulheres, mas na maioria suplentes e agora a maioria está no cargo de titular representante da sua entidade, onde atuam e defendem seus representados que estão na linha de frente, como as mulheres enfermeiras, médicas e agentes comunitárias de saúde. Isso não era uma realidade no passado e hoje acontece por nosso esforço de entender a importância das mulheres no Conselho Municipal de Saúde”, concluiu Gilvan.

Neste momento de pandemia as mulheres da CITT estão empenhadas em buscar melhores condições de trabalho, de vida e esclarecimentos através do CMS, para as suas populações assistidas. Ação valorosa, pois na prática, observamos que a crise pandêmica possibilita muitas contribuições, um misto de emoções diárias para as mulheres que estão na linha de frente da crise da COVID-19.

Enfermeira da linha de frente na UPA, Luciana Barreto.

 

A Luciana Barreto é enfermeira há 11 anos e trabalha no Pronto Atendimento (UPA), de Barreiras, desde o início da pandemia, em março de 2020, está na linha de frente da COVID-19, o que para a profissional da saúde é viver um desafio diário. “Nós mulheres que estamos na linha de frente enfrentamos diariamente o nosso maior desafio, combater a COVID-19. Por sermos mulheres, mais uma vez mostramos nosso potencial como profissionais, lidamos com dor, amor e respeito com os pacientes e familiares. Somos um ombro amigo que acolhemos nos momentos tristes e vibramos com os momentos alegres. Atuamos arduamente para que nosso trabalho seja realizado com amor. É um misto de sentimentos, mas não podemos esquecer que apesar de todas as dificuldades ao final de cada plantão, temos a consciência que nosso trabalho foi realizado com sucesso”, enfatizou a enfermeira Luciana.

Já a biomédica Carla Nunes, atua no Laboratório de Agentes Infecciosos e Vetores (LAIVE), na UFOB, onde durante os seus plantões realiza exames para diagnosticar a Covid-19. Há seis meses a profissional da saúde está na linha de frente, em contato direto com a doença e relata a sua experiência. “Nós mulheres que estamos participando desse momento tão peculiar que está sendo a pandemia, temos observado que o nosso papel como biomédicas é cada vez mais importante, intenso e desafiador. A função das mulheres biomédicas está em evidência e tem se destacado no empenho dos estudos das descobertas em relação a várias situações que ocorrem com o vírus, além de contribuirmos com o trabalho dos outros profissionais”, disse à biomédica que destacou ainda, a preocupação com a contaminação.

 

Carla Nunes, biomédica.

 

No LAIVE  a equipe é composta por seis mulheres.

 

“O nosso maior desafio tem sido não só a nossa proteção como também a proteção dos nossos familiares, muitas vezes temos que manter distância e nos afastar da rotina de carinho. Minha avó tem 93 anos e o distanciamento nesse momento é inevitável. Quando nos deparamos com um resultado positivo a preocupação só aumenta, temos que intensificar os cuidados e precauções. Estamos sempre paramentadas para evitar a nossa própria contaminação enquanto profissional, a contaminação dos nossos colegas e de levar o vírus para a comunidade e nossos familiares”, pontuou Carla Nunes.

 

Violência na pandemia

 

O tema apresentado pela ONU Mulheres em 2021 está alinhado com o tema prioritário da 65ª sessão da Comissão sobre o Status da Mulher, que destaca a eliminação da violência contra a mulher. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o Brasil registrou 648 feminicídios no primeiro semestre de 2020, 1,9% a mais que no mesmo período de 2019.

Em Barreiras, a Ronda Maria da Penha trabalha na fiscalização das medidas protetivas de urgência às mulheres que foram vítimas de violência doméstica, em parceria com todos os órgãos de enfrentamento dessa causa; como a Polícia Militar, a Segunda Vara Crime, a Delegacia Especializada de Atendimento a Mulher – DEAM, o Centro de Referência de Assistência Social – CRAS e o Centro de Referência de Atendimento à Mulher – CRAM.

 

Comandante da Ronda Maria da Penha em Barreiras, Ten. Nina Santos.

 

Durante Sessão Solene na Câmara de Vereadores em fevereiro/2021, a Comandante Ten. Nina Santos, falou sobre a violência contra as mulheres, explanou dados do trabalho da Ronda no ano de 2020 e ressaltou ser um trabalho extremamente desafiador, devido ao período da pandemia da Covid-19.

Segundo a Comandante da Ronda Maria da Penha, em 2020 o efetivo se manteve com 16 Policiais Militares, 343 mulheres foram assistidas mesmo sem Juiz Titular na 2ª Vara Crime de Barreiras e 1.300 visitas foram realizadas sem o contato direto. Até o mês de março 16 palestras foram apresentadas e 12 prisões efetuadas – número maior que a soma das prisões de 2018 e 2019.  Em 2021, a Ronda tem 195 mulheres assistidas e já realizou 250 visitas, com toda a adaptação necessária para o período de pandemia.

“Sabemos que não podemos erradicar a violência contra as mulheres, mas podemos fazer uma luta mais ostensiva no sentido de fazer com que as que passam por esse tipo de situação, tenham como recorrer à rede de Atenção em Situação de Violência, para conseguir sair dessa situação”, pontuou Ten. Nina.

A mensagem e o alerta da Ronda Maria da Penha no mês da mulher é que nenhuma mulher deve sofrer calada. “Nós existimos pra tentar minimizar os efeitos da violência sofrida por tantas mulheres na nossa realidade ainda, infelizmente, em 2021. Nenhuma mulher deve passar pela violência calada, mesmo que ela esteja com medo ou ache que nada vai se resolver, com certeza falar ainda é a melhor solução. A partir do momento de fala podemos tentar agir, ajudar aquela mulher que pode está em relacionamento abusivo”, disse a comandante da Ronda.

“Fiquem atentas aos sinais, tudo começa de uma forma muito leve, às vezes mascarado como um ciumezinho, como se fosse um cuidado excessivo e as coisas acabam evoluindo. Lembrem-se da autonomia de vocês em primeiro lugar, de se amar em primeiro lugar, de acreditar em si e de não deixar ninguém colocá-las pra baixo. Estamos a uma ligação de distância, em caso de violência ligue 190, para a Polícia Militar. Estaremos na sua porta para tirá-las dessa situação de violência”, concluiu.


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