Bebê com microcefalia severa precisa de diagnóstico por imagem, diz OMS

Organização publica novas diretrizes sobre problema ligado a vírus da zika.
Criança com grau mais sutil de anomalia deve ter acompanhamento clínico.

 

 Neuropediatra Vanessa Van Der Linden observa exame de imagem de um bebê com microcefalia no Hospital Barão de Lucena, no Refife, Brasil, em foto de 26 de janeiro (Foto: Reuters/Ueslei Marcelino)

Médica analisa tomografia computadorizada de bebê com microcefalia (Foto: Reuters/Ueslei Marcelino)

 

A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomendou em um documento divulgado nesta quinta-feira (25) que os bebês com casos mais extremos de microcefalia nas áreas afetadas pela zika passem por diagnósticos de imagem como ressonância magnética e tomografia computadorizada.

Esses exames, segundo as novas diretrizes, são necessários para buscar possíveis anormalidades cerebrais, que vão além do pequeno diâmetro da cabeça em si.

Pelos novos parâmetros, casos de microcefalia passam a ser divididos em três tipos: “microcefalia”, “microcefalia severa” e “microcefalia severa com anormalidade cerebral”.

Na categoria simples “microcefalia”, encaixam-se todos os recém-nascidos com circunferência do crânio menor que “2 desvios padrão abaixo da média”. A OMS não especifica valores absolutos no documento, mas no contexto do Brasil isso se traduz em crianças com circunferência do crânio menor que 33 cm.

A “microcefalia severa” é aquela com “3 desvios padrão abaixo da média”, ou o equivalente a um perímetro craniano de 32 cm. Esses são os casos que a OMS recomenda serem objeto de diagnóstico por imagem.

Caso sejam detectados problemas estruturais no cérebro, o diagnóstico passa a ser então de “microcefalia severa com anormalidade cerebral”.

Cuidados neonatais
Pelas recomendações da OMS, os recém-nascidos com perímetros entre 33 cm e 32 cm, menos afetados pela microcefalia, mesmo que não sejam submetidos a tomografia e ressonância, precisam de acompanhamento clínico.

Essas crianças com “microcefalia” precisam ter o crescimento da cabeça monitorado, e suas mães precisam passar por uma investigação do período de gravidez passado. É preciso levantar também histórico familiar para investigar possíveis causas genéticas para a microcefalia. Elas também devem ter direito a avaliação de desenvolvimento e exames físicos e neurológicos periódicos.

Todos esses procedimentos também devem ser feitos para as crianças com “microcefalia severa”, mas essas também devem passar por diagnóstico de imagem e exames auditivos e oculares — muitos bebês afetados pela zika apresentam problemas nos olhos e ouvidos.

As crianças com “microcefalia severa e anormalidade cerebral” devem receber os mesmos acompanhamentos das outras duas categorias de diagnóstico, mas devem ter encaminhamento diferente, dependendo do tipo de anomalia detectado nos exames.

Exames de imagem
A separação entre diferentes tipos de casos tem como objetivo filtrar aquelas crianças que ainda são vistas com alguma chance de contornar o problema. “Uma proporção dessas crianças terá desenvolvimento neurológico normal”, diz a OMS, sobre a faixa de crianças com perímetro entre 33 cm e 32 cm.

Para neurologistas, a separação de tipos de caso deve ajudar a OMS a cumprir seu objetivo de melhorar a padronização de dados para vigilância epidemiológica e para cuidados clínicos.

“Num momento inicial, isso é importante para saber que criança vai ter que ser investigada e que criança não precisa ser investigada” diz Fernando Pinto, neurologista do Hospital das Clínicas de São Paulo, que abriga uma maternidade de referência em gravidez de risco. “Se fosse determinado que é preciso de exames de imagem para todas as crianças, isso incorreria em um gasto absurdo que seria inviável.”

Exames de imagem, além disso, causam muito estresse em recém-nascidos. “Fazer uma ressonância magnética e uma tomografia computadorizada num bebezinho pequeno implica em anestesiar a criança”, diz Pinto. “Na ressonância, ela fica quase uma hora dentro da máquina.”

Anormalidade cerebral
Segundo Pinto, porém, no caso de crianças com “microcefalia severa”, os exames de imagem são mesmo necessários.

“A microcefalia, por definição, é só a cabeça pequena, mas o que existe lá dentro pode não ser apenas um cérebro menor”, diz o neurologista.

“Por exemplo, a criança pode ter os ventrículos — a cavidades onde o fluido cerebrospinal é produzido– grandes demais e deformados”, explica “É possível encontrar calcificação e também lesão propriamente dita. Essas são coisas que afetam o crescimento do cérebro, que por sua vez afeta o crescimento do crânio.”

Uma vez determinado o tipo de interferência que o cérebro da criança sofreu, pode ser possível encontrar os mecanismos de ação com que o vírus da zika afeta o cérebro.

A uniformização dos critérios para diagnosticar a microcefalia, além disso, deve ajudar a organizar os dados que dizem quanto de risco o patógeno representa no surgimento do problema neurológico.

Fonte: G1/Bem Estar

http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2016/02/bebe-com-microcefalia-severa-precisa-de-diagnostico-por-imagem-diz-oms.html


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