Para algumas mães, é a necessidade de voltar ao trabalho e à rotina que motiva esse desligamento. Já para outras, o incômodo de ter que parar todas as atividades ou dar mama em qualquer lugar é algo que incomoda. Muitos pais têm medo de que a criança fique desnutrida ou sinta muita falta do vínculo afetivo que o aleitamento materno proporciona, mas é unânime que essa separação é necessária e faz parte do desenvolvimento dos pequenos.

O especialista Fernando Fernandes, 58 anos, pediatra há mais de 30, diz que não existe um momento ideal para o desmame. A recomendação do Ministério da Saúde, assim como da Organização Mundial da Saúde, da Sociedade Brasileira de Pediatria e da Academia Americana de Pediatria, é que a amamentação seja exclusiva até os 6 meses de vida e complementar até os 2 anos.

“Na realidade, o desmame vai depender do filho, da mãe e de seu estilo de vida. Muitas vezes, o bebê dá o sinal de que chegou a hora. Ele fica tão entretido com as novidades, comidinhas novas e  com a possibilidade de descobrir o mundo engatinhando e andando, que perde o interesse pelo peito”, comentou Fernando, lembrando que a rotina profissional da mãe e sua capacidade física ou emocional também podem impossibilitar a amamentação. Por isso, o especialista ressalta:” é importante tomar a decisão juntamente com o pediatra para que o processo não interfira na saúde do bebê e deixe ambos felizes”.

Descoberta

A mamadeira pode parecer mais prática, mas, além de causar prejuízos, exige um segundo desmame. Muitas vezes, é necessário que a criança experimente o copo de transição, com bicos de silicone, para só depois conseguir usar uma versão tradicional. O processo dá trabalho, pois, geralmente, os bebês criam uma dependência emocional da mamadeira, difícil de largar. O médico diz que é bom oferecer o leite sempre com o bebê sentado para evitar engasgos.

Outro detalhe revelado é fazer tudo de maneira gradativa e a mãe se sentir bem e segura com a decisão. O desmame vai ocorrer substituindo uma mamada por algum alimento, ou mamadeira, ou copo, dependendo da idade do bebê. Deve-se escolher uma mamada para oferecer mamadeira ou copinho em vez do peito e ver qual a reação. Quando a criança se habituar, é bom trocar os horários também.

Segundo Antônio Barros Neto,  pediatra do Hospital São Rafael, o momento certo para  o início do desmame é a partir dos seis meses  de vida. A recomendação da Sociedade  Brasileira  da  Pediatria é que toda  criança deverá usar o leite materno exclusivo até  o sexto mês  de vida, a partir daí seriam introduzidos outras fontes de proteínas, sais minerais,  ferro e vitaminas, através  de  alimentos  como papas  de  frutas e  sopas de  verduras, cereais, leguminosas, associada a uma  proteína: carne, frango  peixe, ovos, dentre outros.

Amamentar até os dois anos

“Para as  mães que têm o  privilégio da  licença  gestante  de  seis meses é mais fácil, pois tem 33% a mais  de  tempo, em comparação com a maioria que cumpre  a licença  gestante em quatro meses”, comentou o profissional.  A licença  gestante foi estendida de quatro para seis meses, aprovada pelo  Congresso Nacional, porém praticamente só as  empresas públicas, governo federal, estadual e municipal cumprem. Algumas  empresas privadas já adotaram. A maioria  delas aplica os quatro meses. Como alternativa, boa parte  das mães consegue tirar  as férias, emendando com o período de licença. A orientação é de manter, dentro do possível, o aleitamento  materno até os dois anos  de  vida.

As mães, antes do retorno ao trabalho a depender da demanda e  produção do leite podem ordenhar  e armazenar o leite no freezer  por três meses e no refrigerador, por  24 horas. Quando usá-lo, deverá ser aquecido em banho-maria. Quando o desmame ocorrer antes do período ideal, além do recurso da ordenha e  introdução das  papas de  frutas e verduras  com uma fonte  proteica, é indicado  lançar mão de fórmulas infantis a base  de leite de vaca, enriquecido de  vitaminas, sais  minerais e  ferro, tais  como: nan, netogeno, aptamil  e outros. Com uma  boa  orientação e  visitas  regulares ao pediatra, o lactente não correrá  risco.

O bebê pode ficar irritado durante o desmame, pois sai de uma situação conhecida e confortável, que é o peito da mãe, para outras que não conhece e que são um desafio. Até descobrir que essa troca é prazerosa, ele pode chorar, ficar manhoso e requisitar mais a mãe. Afinal, o desmame nada mais é do que um desligamento.

Fonte: Tribuna da Bahia