Estou com pouco tempo para odiar

Jayme Modesto

O clima de confronto e embates cada vez mais acalorado, tem exposto mais do que um país dividido entre nós e eles, nestes dias que antecedem o 1º turno da eleição marcada para o dia 07 de outubro. Nas redes sociais e nas ruas, os xingamentos e agressões entre apoiadores e eleitores são cada vez mais comuns e frequentes.

Não dar para entender a postura de pessoas que tem um bom nível de conhecimento, com discursos rasos e agressivos, que incentivam cada vez mais o ódio e a divisão da sociedade.

Tenho alguns amigos que enveredaram por esse  caminho da violência verbal e a falta de respeito, demonstrando total intolerância com  quem pensa diferente deles.

Estou surpreso com uma premeditada avalanche de comentários corrosivos, ofensivos e gratuitos dirigidos a minha pessoa, só porque tenho uma postura diferente deles, o que demonstra como a educação e os bons princípios estão perdendo a guerra para essa onda de ódio e violência que estamos vivendo, creio que isso se caracteriza pela falta de informação e vontade em se conhecer e respeitar as diferenças de opiniões. A sociedade parece estar se esquecendo do quanto é importante, para a convivência social, aceitar, suportar, ser tolerante, compreensivo e respeitar a liberdade de expressão.

Já dizia o famoso e tão atual filósofo Nicolau Maquiavel em sua obra, – O Príncipe “os fins justificam os meios”.

A crítica e o contraditório são fundamentais. Grande parte dos avanços em liberdades individuais e nas relações humanas nasceram do questionamento de paradigmas. A base da democracia é a liberdade de expressão.

Suponho que alguns dos meus amigos do Facebook estão apresentando sintomas ligados à chamada síndrome de Tourette.

Retrocedendo um pouco na história política e biográfica, deparamos: Portinari e Jorge Amado eram gênios na pintura e na escrita. Também foram devotados comunistas. Jorge Luís Borges mudou a maneira de pensar a literatura mundial. Era racista e achava a ditadura de Francisco Franco muito boa. Oscar Niemeyer mudou a noção de arquitetura do século XX. Era adepto do marxismo. Shakespeare, do ponto de vista político, era bastante conservador e desconfiava da participação popular. Descartes e Pascal eram religiosos; Bertrand Russel e Diderot, ateus. Picasso e Hemingway eram sedutores quase agressivos de mulheres. Nelson Rodrigues não era, exatamente, um feminista. O pintor Francis Bacon, o músico Schubert e o economista J. Keynes tinham vida ou desejo homoeróticos. O que eu quero dizer, no momento em que eu apenas uso o rótulo, perco a chance de ver a razão. Fixar-se no estereótipo parece ser um recurso de certa estreiteza analítica. Tanto a maestria pode estar presente num indivíduo detestável, como a mediocridade pode aflorar no mais engajado lutador dos direitos dos filhotes de anta.

Respondo raramente a críticos agressivos. Basicamente por falta de tempo e também por acreditar ser um direito de todos, a manifestação com liberdade, dentro dos limites da lei. Internet funciona como terapia para muitos. Sempre entendi que as pessoas deveriam ser comedidas não por humildade, porém por vaidade, já que atacando alguém eu falo tanto de mim e dos meus medos que a prudência impõe certo silêncio obsequioso. Poucas coisas desnudam tanto o meu sentimento como o ataque. Podemos sempre evitar questionar com quem discordamos. O impossível é evitar a nós mesmos.

Cheguei ao meu número 7.0 e nunca havia percebido a vida tão fascinante como agora. Melhorei muito porque tive boas relações ao longo dos anos, principalmente no meu campo profissional, – a comunicação. Esses 35 anos de jornalismo ajudou-me a superar mazelas e lacunas. Agradeço aos 574 entrevistados especiais do meu programa “Encontro Marcado” nestes três anos de existência na TV Câmara, a eles, desejo muita paz e aos outros julgadores, estou com pouco tempo para odiar.

Boa eleição para todos.


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