Entidades cobram medidas para evitar agressões a profissionais da imprensa

Abert pede implementação de orientações claras às forças policiais

 

Representantes do setor de comunicação cobram de ministro medidas para evitar radicalização em manifestações – Givaldo Barbosa / Agência O Globo

BRASÍLIA – Em meio ao clima de radicalização política, com agressões contra profissionais de imprensa, as entidades representantes do setor de comunicação social cobraram do governo federal que oriente as polícias militares e civis no sentido de garantir a segurança dos trabalhadores da mídia, sobretudo nas próximas manifestações de rua. Integrantes da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) e da Associação Nacional de Jornais (ANJ), entre outras, se reuniram com o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Edinho Silva.

As entidades lembraram de agressões ocorridas na última sexta-feira, durante a cobertura do depoimento do ex-presidente Lula. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) divulgou nota de repúdio contra ataques praticados nos últimos dois dias pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), que invadiram a sede do Grupo Jaime Câmara para protestar contra a TV Globo em Goiânia (GO), na terça-feira, e ontem fizeram uma equipe de reportagem refém no Paraná.

Daniel Slaviero, presidente da Abert, defendeu medidas enérgicas do governo diante do cenário de acirramento e de violência contra a imprensa.

— Temos pedido para que o governo federal tome todas as providências cabíveis, no âmbito da União, através do Ministério da Justiça, mas também no âmbito dos estados, que têm a função primordial da segurança nesses eventos (manifestações) que ocorreram e que ocorrerão nos próximos dias — afirmou.

— Está havendo uma inversão de valores. Um microfone, uma câmera, uma máquina fotográfica e até mesmo um celular está sendo considerado pelos policiais uma arma e esses policiais têm agredido, em grande maioria, os profissionais da imprensa.

Ao final da reunião com os representantes do setor de comunicação, Edinho condenou a violência independentemente da “origem” e reafirmou o compromisso do governo com a liberdade de imprensa.

— A violência não é boa em hipótese alguma, nem a violência daqueles que defendem nem a dos que criticam o governo. A violência tem que ser coibida o tempo todo, independente de quem deu origem ao ato — afirmou o ministro, evitando responder se os movimentos pró-governo não estão acirrando os conflitos.

Edinho evitou apontar o cenário político como o único responsável pelo clima de “intolerância” vivido, mas ressaltou a responsabilidade das “lideranças governamentais” e dos veículos de comunicação na tarefa de coibir abusos e denunciá-los:

— Se nós procurarmos um único fator, não vamos encontrar a origem do crescimento da intolerância. Agora, é inegável que no ambiente que estamos vivendo a intolerância cresce.

De acordo com dados levados ao ministro pelas entidades, só em 2016, já ocorreram 57 casos de agressões, intimidações, ameaças e outros atos de violência contra profissionais da imprensa ou empresas no país — praticamente metade dos 116 ataques registrados ao longo de 2015, quando houve oito mortes de jornalistas relacionadas ao exercício da profissão. Os números, segundo a Abert, colocam o Brasil como o quinto país mais perigoso para a prática do jornalismo.

ENTIDADES SOLTAM NOTA

Em nota, a Abraji classificou como “inaceitável” episódios de violência contra o profissionais, lembrando que, apenas nos últimos dois dias, integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) invadiram o prédio, em Goiânia, onde funcionam uma afiliada da TV Globo, a sucursal da Rádio CBN e dois jornais. Na ocasião, eles barraram a entrada e saída dos funcionários e picharam as instalações.

Na quarta-feira, a repórter Patricia Sonsin e o repórter cinematográfico Davi Ferreira, da afiliada da Band em Cascavel (PR), foram ameaçados e retidos por integrantes do MST quando tentavam fazer uma reportagem sobre a ocupação de fazendas em Tarobá (PR). Os profissionais relataram que foram obrigados a acompanhar o grupo até o acampamento, sob o risco de terem os equipamentos quebrados. Ficaram no local por cerca de 20 minutos ouvindo agressões verbais.

“Sem prejuízo da liberdade de manifestação política, é inaceitável o uso da violência para tentar intimidar e constranger o trabalho de repórteres que cumprem o dever de informar a sociedade e, por isso, devem ser respeitados. A Abraji espera que os responsáveis por tais atos sejam identificados e punidos”, diz a nota da entidade.

A Abert, a Associação Brasileira de Rádio e Televisão – ABRATEL, a Associação Nacional de Editores de Revistas – (ANER) e a ANJ também soltaram nota conjunta com apoio do escritório da UNESCO no Brasil.

“É equivocado o pensamento daqueles que creem que os veículos de comunicação são protagonistas do processo político. A imprensa cumpre seu papel constitucional de cobrir e reportar os fatos de interesse da sociedade. É lamentável, portanto, que as empresas cheguem ao ponto de ser obrigadas a colocar em prática esquemas especiais de proteção a seus repórteres, jornalistas, cinegrafistas, fotógrafos e técnicos. As agressões, danificações de equipamentos ou qualquer ato de vandalismo são formas de intimidar e cercear o trabalho dos veículos de comunicação”, diz a nota.

“É importante lembrar que toda a ação individual ou coletiva que busque dificultar ou impedir o trabalho da imprensa atenta contra o Estado Democrático de Direito e as suas garantias constitucionais de liberdade de expressão e de pensamento. As entidades signatárias, ao se solidarizarem com os profissionais constrangidos ou agredidos no exercício de sua profissão, reiteram o seu compromisso diário com a sociedade brasileira de cobrir todo e qualquer fato com isenção, de modo a assegurar ao cidadão o pleno acesso à informação e à pluralidade de ideias e de pensamento.”

Fonte: O GLOBO

http://oglobo.globo.com/brasil/entidades-cobram-medidas-para-evitar-agressoes-profissionais-da-imprensa-18847801


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