Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) chegou ao consenso de que um segundo reforço da dose da vacina contra a febre amarela pode ser considerado, principalmente nas crianças vacinadas antes dos dois anos de idade. O entendimento foi proferido na atualização do calendário vacinal para o segundo semestre de 2018 e começo de 2019. A SBIm reúne especialistas periodicamente para definir diretrizes sobre vacinas em todas as idades.
Atualmente, o Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde estabeleceram que bastaria uma única dose para a proteção para a vida inteira. A diretriz da OMS foi estabelecida em 2013 e, durante muito tempo, o Brasil foi o único país do mundo a recomendar duas doses — situação que mudou em abril de 2017, quando a demanda sobre a vacina aumentou exponencialmente.
A presidente da entidade, Isabella Ballalai, considera que a posição do Ministério da Saúde foi adequada para o momento, mas explica que a SBIm chegou a essa conclusão por entender que não há estudos suficientes para dizer, com certeza, a duração da proteção da vacina — embora acredite-se que ela tenha sim efeitos muito duradouros.
A principal preocupação da entidade são os estudos que atestam que 20% das crianças vacinadas com menos de dois anos de idade não respondem adequadamente à vacina.
“Nossa principal preocupação não é nem o adulto nesse momento, mas a criança vacinada com menos de dois anos porque já temos dados e estudos sobre a eficácia da vacina nesse grupo”, explica Isabella.
Anualmente, a entidade reúne uma comissão de especialistas e atualiza esses calendários, com os últimos consensos científicos sobre o assunto. A comissão tem 25 membros. Em última reunião, realizada no final de março, a entidade também considerou que um segundo reforço da dose pode se indicado em situações de risco epidemiológico.
“Não há consenso sobre a duração da proteção conferida pela vacina. De acordo com o risco epidemiológico, uma segunda dose pode ser considerada, em especial para aqueles vacinados antes dos 2 anos de idade, pela maior possibilidade de falha vacinal primária”, pontua atualização do calendário vacional.
A posição da entidade sobre o reforço segue entendimento do Centro Controle de Doenças dos Estados Unidos que também considera um reforço da vacina em alguns casos, como em soropositivos para o HIV e viajantes para áreas com transmissão ativa da doença. Por esse motivo, a entidade recomendou que norte-americanos que viagem a regiões de risco no Brasil considerem um reforço da dose (se passado o período de 10 anos, como era anteriormente por aqui).
Os Estados Unidos não exigem que brasileiros que viajem ao país tomem a vacina.
A Sociedade Brasileira de Imunizações considera que a decisão do Ministério da Saúde foi adequada para a situação de risco, principalmente com a introdução do vírus em regiões muito populosas como São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia.
“A gente tem que entender a situação da febre amarela em um contexto. Uma coisa é os Estados Unidos, que não tem circulação da doença, fazer essa indicação para viajantes. Outra bem diferente é a situação brasileira, que teve uma demanda surpreendente sobre a vacina e tem mais de 200 milhões de habitantes”, explica Isabella Ballalai.
A prioridade brasileira foi proteger o máximo de pessoas possível em um curto período de tempo, diz Isabella. Medidas como dispensar o reforço e a adoção da dose fracionada, que é segura e eficaz, foram corretas, completa a especialista.
Apesar da decisão, entretanto, a presidente da SBIm pontua que nem os Estados Unidos, nem a OMS, nem o Ministério da Saúde possuem estudos suficientes para dizer que a vacina protege para a vida inteira. “Não há esse dado, nem em adultos, nem em grupos específicos. Os dados da litetatura são muito poucos”, completa.
Nesse momento, o Ministério da Saúde e a Fiocruz estão fazendo um estudo independente para atestar a eficácia da vacina a longuíssimo prazo em áreas sem circulação do vírus. O estudo está sendo feito na Paraíba, onde não há transmissão.
O estudo na Paraíba é particularmente importante porque uma questão que tem sido levantada nos estudos avaliados pela Organização Mundial da Saúde é que muitas pesquisas que atestaram a eficácia prolongada do imunizante foram feitos em regiões com circulação do vírus.
O problema com esse aspecto é que muitos vacinados podem ter tido reforço natural da imunidade; com isso, a proteção prolongada pode não ter sido provocada pela vacina tomada anteriormente.
Fonte: G1/Bem Estar