Márcia Sá Teles apresenta situação do município de Cotegipe e revela dívida milionária da prefeitura

“A herança do governo anterior tem prejudicado e engessado nossa administração”, revela a atual prefeita do município

Os dados apurados nestes 90 dias foram apresentados pela gestora minuciosamente através da exposição de documentos públicos | Foto: Cheilla Gobi

Cheilla Gobi DRT 4871/BA

 

Mais de R$ 15 milhões em dívidas, sendo R$ 10 milhões só do INSS. Segundo a atual gestão pública de Cotegipe, esse é o déficit deixado pelo ex-prefeito do município. As informações foram divulgadas na noite desta terça-feira (05/04) em reunião ordinária na Câmara de Vereadores. Além disso, a prefeita Márcia Sá Teles apresentou um balanço da real estrutura administrativa e financeira do município, que segundo ela gerou-se uma situação de descontrole financeiro e orçamentário que comprometeu a capacidade de investimento do município e a prestação de serviços públicos essenciais à população.

A reunião contou também com a presença do prefeito de Cristópolis Gilson Nascimento, imprensa barreirense e moradores de Cotegipe | Foto: Cheilla Gobi

“Em quatro anos da gestão passada, o ex-prefeito deixou uma dívida no valor de R$ 10 milhões só do INSS e eu provo. O ex-gestor não me depreciou, ele prejudicou quase 15 mil habitantes. Isso não é perseguir Márcia, é perseguir os próprios conterrâneos”, disse a prefeita.

Os dados apurados nestes 90 dias foram apresentados pela gestora minuciosamente através da exposição de documentos públicos. Os números, anunciados, são resultados da apuração de uma comissão nomeada para analisar as finanças da administração municipal. O valor deixado em caixa na transição foi de R$ 3,6 mil.

“No recurso liquido da Prefeitura ficaram R$ 564 mil sendo que um pouco mais de 560 estavam empenhados. Portanto o saldo que ficou na Prefeitura foi de 3.600 reais. Na Saúde ficaram 144 mil, sendo que 140,291 reais ficaram empenhados, no entanto, um saldo de 3.784 ficou na saúde. É fácil sair dizendo que deixou milhões, mas tenho aqui todas as provas do que eu encontrei, em saldos e extratos”, revelou Márcia.

Na oportunidade a prefeita falou cobre a transição de governo. De acordo com ela, muitos convênios também estariam em situação crítica. Falou dos consignado e das ações que foram possíveis realizar nestes 90 dias.

“Estou aqui hoje para dividir minha angustia com essa Casa e com a população de Cotegipe, pois acredito que o executivo deve ser parceiro do legislativo. Estamos aqui para prestar contas para a comunidade”, disse Márcia.

Conforme a prefeita, a consequência desse descontrole, está sendo a redução da capacidade de investimento da prefeitura, inclusive para atender serviços básicos, como a manutenção da cidade. “A herança do governo anterior tem prejudicado e engessado nossa administração. Não estou feliz com o que eu encontrei, porque não posso fazer nada do que eu sonhei. Tudo isso inviabilizou um município inteiro”, revela a atual prefeita do município.

Segundo a prefeita, por diversas vezes foi solicitado um inventário patrimonial que não foi entregue em nenhum momento. Na comissão de transição, a gestora afirma que faltaram as duas peças principais: Contabilidade e financeiro.

“Não apareceram em nenhuma das reuniões nem o representante da contabilidade e nem do financeiro, ou seja, assumimos uma administração sem noção nenhuma do que iriamos encontrar, eu sabia que não seria fácil, mas foi muito pior do que eu imaginava. Eu tenho documentos para provar tudo o que eu falo”.

Entre as contas estariam ainda dívidas como de água, luz, e telefone, além de seguro obrigatório de veículos (DPVAT) atrasados e salários de servidores em aberto. Essas contas somam  quase R$ 600 mil.

Somando todas as despesas pessoal, dá quase R$ 600 mil. Despesas que não estavam empenhadas. Pagamos o DPVAT dos carros, uma despesa de mais de 3 mil reais. Ainda estamos providenciando os recursos para pagar os das motos. Só de telefone, mais de R$ 6 mil. Despesa com a Embasa, R$ 89 mil e mais R$ 81 mil de Coelba”, detalhou Márcia.

Crédito Consignado – Conforme explica Márcia, mais de R$ 500 mil referentes a consignados, que foram descontados nos contracheques dos servidores e não repassados à Caixa Econômica. Mais de 49 mil em outra instituição e mais uma divida de 276,114 também de consignados.  “Três instituições financeiras, que já lançaram os nomes dos servidores no cadastro de inadimplência pelo não recolhimento, o que é um total absurdo”.

Na ocasião, a prefeita Márcia Sá Teles informou ainda sobre irregularidades com o convênio de duas pontes no município. A gestora conta que no dia 28 de dezembro de 2016, foi realizado um pagamento parcial no valor de R$ 650 mil referente a construção das duas pontes no município, restando agora, R$ 286 mil reais. As duas pontes estão orçadas em R$ 936 mil.

“Trago também um extrato que comprova que esse dinheiro entra no dia 23/12/2016, na conta da Prefeitura. No dia 28/12 foi pago R$ 608 mil. O restante, R$ 282 mil foi retirado no dia 30/12, ou seja, dois dias depois, para pagamento de duas notas, uma no valor de R$ 104 mil e outra de R$ 178 mil por um serviço de terraplanagem, quando nunca se viu uma máquina fazendo esse serviço no município durante os quatro anos de governo. Portanto, o dinheiro do convênio de duas pontes foi repassado para outras duas empresas, nada haver com o convênio, no apagar das luzes do final da gestão do ex-prefeito. E o que fica para nossa gestão são os restos a pagar”, aponta Márcia.

Advogado Fabrício Maltez

Medidas

O novo governo informou que vai analisar todas as dívidas para decidir sobre os pagamentos e possíveis formas de pagamento, de acordo com o orçamento e necessidade. “Estamos analisando as possibilidades e prioridades. E vamos ajuizar quem errou, para que a nossa gestão não venha ser penalizada lá na frente por um erro que outro gestor cometeu. Entrei limpa e com fé em Deus irei sair limpa”, assegurou Márcia.

O advogado Fabrício Maltez falou que a Prefeitura está tomando medidas cabíveis, junto a justiça.  “O primeiro passo é tomar medidas judiciais contra aquele que deu causa à situação e foi o que fizemos. Já entramos com mais de 15 atos contra o ex-prefeito, inclusive protocolamos notícias criminais, pois todos sabem que apropriar daquilo que não lhe pertence é dominado pela atividade tributária, apropriação indébita”.

O advogado disse ainda que entrou com uma ação em março, na Justiça Federal de Salvador com intuito de barrar o parcelamento de 60 meses que fora feito no final da gestão passada do INSS. “A partir de maio, a administração vai conseguir respirar, pois conseguimos uma liminar até que consigamos o parcelamento especial. Até para pagar salários nesses dois meses, nessa situação em que se encontra o município, situação critica de previdência, foi quase que um milagre”, destacou Fabrício.

Ações

Vice-prefeito, Waltécio Chaves (Tino) | Foto: Cheilla Gobi

Com o intuito de melhorar as condições de vias, estradas, mobilidade e praças da cidade, nestes primeiros 90 dias foram realizadas melhorias em várias localidades do município. O vice-prefeito, Waltécio Chaves (Tino), que também é responsável pela pasta de Infraestrutura do município, explica que apesar das dificuldades enfrentadas, o objetivo é atender as solicitações da população.

“Vamos fazer aquilo que estiver ao nosso alcance, com responsabilidade. Apesar de todas as nossas dificuldadesestamos conseguindo realizar obras importantes em nossa cidade. Já estamos executando algumas ações com recursos próprios e estamos buscando outros recursos junto ao governo do estado para trabalhar pelo nosso município”.

Diante da dificuldade que tem encontrado neste primeiro momento, a prefeita pede paciência ao povo de Cotegipe. A gente se surpreende com 90 dias de gestão e com mais de um milhão a menos, nos cofres da prefeitura, de descontos do INSS, que não voltam mais. Mas estamos fazendo tudo o que é necessário, da melhor forma possível e com responsabilidade. O nosso slogan é ‘O melhor pra nossa gente’, e é isso que vamos fazer, mesmo com toda a dificuldade, e temos esperança de que as coisas vão melhorar. Faremos uma gestão pensando no melhor para nosso povo”, concluiu Márcia Sá Teles.

O presidente da Câmara, César Souza, disse que o espaço vai estar sempre aberto para o executivo se posicionar. “Essa casa é um espaço para o povo e quando recebemos o ofício atendemos de imediato a solicitação da prefeita do município. Iremos analisar toda essa documentação e em outro momento iremos nos posicionar”, disse o presidente.

Além da participação da prefeita, do vice, do advogado e vereadores, a reunião contou também com a presença do prefeito de Cristópolis Gilson Nascimento, imprensa barreirense e moradores de Cotegipe.

Presidente da Câmara, César Souza


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