Índice de abortos cresce na América Latina e cai nos países ricos

Estudo da OMS mostra que leis restritivas não fazem taxa diminuir

Manifestação pela legalização do aborto em Copacabna, em 2014 – Marcos Tristão / Agência O Globo

RIO — Enquanto cada vez menos mulheres realizam abortos em nações desenvolvidas, o número daquelas que interrompem a gravidez em países em desenvolvimento se mantém praticamente o mesmo desde 1990. O cenário aparece no relatório global e regional sobre incidências de aborto feito pelo Instituto Guttmacher, com sede nos EUA, e pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Publicado na revista “Lancet”, o documento mostra que a taxa de aborto em regiões do mundo consideradas desenvolvidas caiu de 46 para 27 em cada mil mulheres de 15 a 44 anos. Essa queda ocorreu entre 1990 a 2014. Neste mesmo período, no entanto, os países em desenvolvimento viram sua taxa cair apenas de 39 para 37 em cada mil mulheres, diferença tida como pouco expressiva pelos autores do estudo.

A situação é ainda pior se for considerado apenas o recorte da América Latina: nessa região, o número de mulheres que interromperam a gravidez subiu de 40 para 44 em cada mil. A América do Sul acompanha esse aumento: se 43 em cada mil faziam aborto em 1990, esse índice passou para 47 em 2014.

Os autores destacam que, nos países em desenvolvimento, a cada quatro gestações, uma terminou em aborto entre 2010 e 2014. E isso se deve, dizem eles, ao acesso mais restrito a métodos de controle familiar e contracepção.

— As tendências que encontramos sugerem que as mulheres e os casais do mundo desenvolvido se tornaram mais bem-sucedidos em evitar gestações indesejadas, que são a causa da maioria dos abortos, ao longo das últimas duas décadas — afirma a principal autora, Gilda Sedgh, do Instituto Guttmacher, de Nova York. — Altas taxas de aborto estão diretamente relacionadas à fraca oferta de anticoncepcionais modernos. Nossos resultados indicam que, em muitas regiões em desenvolvimento, as mulheres ainda não têm os serviços de contracepção de que precisam e, por isso, são menos capazes de evitar uma gravidez que não querem ter. Mais de 80% das gestações indesejadas são vividas por mulheres que não conseguiram métodos de contracepção.

O documento também indica que leis restritivas em relação ao aborto não impedem que ele seja realizado, frequentemente de forma insegura, pondo em risco a vida da mulher. Comparando-se continentes, a maior taxa de interrupções de gestação fica a cargo da América Latina — que inclui países caribenhos que proíbem o aborto até mesmo em caso de estupro e risco de vida para a mulher. Somando-se os países latinos, 32% das gestações entre 2010 e 2014 terminaram em aborto. Estados Unidos e Canadá registraram 17% nesse período.

— Onde o acesso ao aborto seguro é limitado, sabemos que o aborto clandestino e perigoso é largamente praticado — lamenta Bela Ganatra, cientista do Departamento de Saúde Reprodutiva da OMS.

Fonte:  O GLOBO

http://oglobo.globo.com/sociedade/saude/indice-de-abortos-cresce-na-america-latina-cai-nos-paises-ricos-19295873


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